quinta-feira, 29 de maio de 2008

A juventude e a imprensa de hoje - Parte II

Conforme prometido, vamos discutir o segundo ponto do "bate papo literário" com o escritor Zuenir Ventura e Alberto Villas, um dos editores do Fantástico.
Foi amplamente discutido como a imprensa mudou nesses 40 anos após maio/68. Alberto Villas levou algumas capas da revista Veja da época que tinha uma postura totalmente diferente da revista de hoje. As capas, geralmente, tinham um apelo político e reportagens mais voltadas à realidade vivida pela sociedade brasileira naquele período. A imprensa tinha liberdade de publicar o que quisesse sem censura, mas tudo mudou depois do AI-05 (Ato Institucional número cinco) decretado em dezembro/68.
Tudo bem, a censura foi recrudescida nos anos seguintes e a imprensa controlada... mas como explicar a postura da imprensa após o fim da ditadura? Por que a imprensa de hoje não tem mais o mesmo cunho político de antes da ditadura?
É uma questão tão simples e tão óbvia que às vezes foge ao nosso compreendimento pela alienação que nos impoem a nova imprensa mundial! Com o desenvolvimento do capitalismo (deve ter gente pensando nesse momento que sou um inflamado de pensamento revolucionário que vai dizer que tudo é culpa do capitalismo... tudo não, mas boa parte sim! rsrs!) a imprensa passou a ter outro papel, o de entreter (como aquela história da Roma antiga de "pão e circo") e o de vender. Os dois juntos é um prato cheio para a alienação geral!
No "bate papo literário" teve um estudante de marketing um pouco "inflamado" que fez uma pergunta um tanto quanto pertinente para a ocasião: Por que o Fantástico não era mais fantástico em suas reportagens?
Ora, caro colega estudante de marketing, já que o nosso colega Alberto Villas não pôde dar uma resposta satisfatória (senão poderia até mesmo perder seu emprego), eu respondo:
A mídia vende e não informa! O que sustenta uma emissora televisiva? ANÚNCIOS absurdamente caros!!! Vc acha que alguma empresa vai querer anunciar em uma emissora que informa, que abre os olhos da população quanto a sujeira em que vivemos? NÃO!!! Vc acha que quando a maioria dos canais de TV param a programação a tarde para mostrar de diversas câmeras por diversos ângulos o "caso Isabela", eles estão informando algo? NÃO, estão explorando o sofrimento dos envolvidos para vender, vender e vender! E o pior é que um bando de desocupados e ignorantes vão para a porta da casa dos envolvidos no caso para protestar... ora, façam-me um favor: vão às casas dos Senhores Deputados, que tanto já nos roubaram, protestar e com a mesma veemência chamá-los de assassinos, pois indiretamente, eles tbm matam crianças inocentes que morrem nas filas de espera do posto de saúde ou nas ruas mendigando um prato de comida!
Para finalizar, deixo aqui uma dica de um filme que fala desta mídia feita para vender e alienar:
Boa Noite e Boa Sorte (Good Nigth, And Good Luck) de George Clooney.
Maycon Ramos

segunda-feira, 26 de maio de 2008

A juventude e a imprensa de hoje - Parte I

No último sábado (24/05), minha namorada e eu fomos à Bienal do Livro de Minas (Expominas) assitir a um "bate papo literário" no espaço chamado "Café Literário" com Zuenir Ventura, jornalista e escritor de duas grandes obras - 1968: O ano que não terminou e 1968: O que fizemos de nós - e Alberto Villas, um dos editores do Fantástico.
O tema do "bate papo literário" era "Afinal, 1968 terminou? Ainda há lugar para utopia?". Para quem desconhece o que se passou em 1968 ai vai uma breve explicação:
O ano de 1968 foi marcado por protestos de significados e proporções revolucionárias em grande parte do mundo, a começar pela França em Maio/1968. No Brasil os protestos tinham como objetivo o fim da ditadura, a liberdade de expressão e a liberdade sexual.

Dois pontos deste "bate papo literário" pretendo discutir aqui: a juventude e o papel da imprensa no mundo de hoje.
A começar pela juventude, Zuenir Ventura explicou que os jovens de 1968 estavam preocupados em defender seus interesses, muitos foram para as ruas e queriam fazer a revolução que foi reprimida pela ditadura. Ao ser questionado sobre o que pensava a respeito do jovem de hoje, o autor se mostrou otimista dizendo que a nova juventude não pode fazer como a de 1968, porque o tempo em que vivemos é completamente diferente daquele tempo. Um estudante de direito perguntou a Zuenir o que ele achava que os jovens poderiam fazer para mudar a realidade do país, ele respondeu que devemos "lutar" com as "armas" que temos e citou o exemplo da internet, que se cada jovem entupice a caixa de entrada de e-mail dos Deputados pedindo melhorias, transparência, talvez algo mudasse.
Em minha opinião, Zuenir Ventura jogou um "balde de água fria" naquele estudante de direito, em mim e em toda juventude que ali estava e tinham alguma esperança de ouvir desse grandioso autor, palavras de incentivo, algo que o jovem de hoje, tão desiludido com a política, precisa ouvir. Há uma grande diferença entre encher a caixa de entrada do e-mail de um Deputado e ir às ruas protestar. Se o Sr. Deputado quiser resolver esse problema de sua caixa de e-mail entupida, apenas com um "click" estaria resolvido. Bem diferente de ir às ruas, protestar, lutar pelos nossos direitos.
Ainda há espaço para protestos, para tentar, não uma revolução como se pretendia em 1968, mas melhorar a realidade do país. E é com total convicção que digo que não é através de e-mail's que vamos conseguir mudar coisa alguma!

O outro ponto que gostaria de discutir, fica para a próxima postagem...

Maycon Ramos

sexta-feira, 23 de maio de 2008

A internacionalização da Amazônia


Sobre a internacionalização não só da Amazônia como também dos recursos pertencentes aos países do mundo, vale a pena ler o artigo do pernambucano Cristóvam Buarque senador, ministro da educação, ex-reitor da Universidade de Brasília e ex-governador do Distrito Federal. Veja o que mais se deveria internacionalizar segundo ele.
Fui questionado sobre o que pensava da internacionalização da Amazônia, durante um debate recente, nos Estados Unidos. O jovem introduziu sua pergunta dizendo que esperava a resposta de um humanista e não de um brasileiro. Foi a primeira vez que um debatedor determinou a ótica humanista como o ponto de partida para uma resposta minha. De fato, como brasileiro eu simplesmente falaria contra a internacionalização da Amazônia. Por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Respondi que, como humanista, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia, podia imaginar a sua internacionalização, como também de tudo o mais que tem importância para a humanidade. Se a Amazônia, sob uma ótica humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro. O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia é para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir a extração de petróleo e subir ou não o seu preço. Os ricos do mundo, no direito de queimar esse imenso patrimônio da humanidade. Da mesma forma, o capital financeiro dos países ricos deveria ser internacionalizado. Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono, ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias dos especuladores globais. Não podemos deixar que as reservas financeiras sirvam para queimar países inteiros na volúpia da especulação. Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver a internacionalização de todos os grandes museus do mundo. O Louvre não deve pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se pode deixar que esse patrimônio cultural, como o patrimônio natural amazônico, possa ser manipulado e destruído pelo gosto de um proprietário ou de um país. Não faz muito, um milionário japonês decidiu enterrar com ele um quadro de um grande mestre. Antes disso, aquele quadro deveria ter sido internacionalizado. Durante o encontro em que recebi a pergunta, as Nações Unidas reuniam o Fórum do Milênio, mas alguns presidentes de países tiveram dificuldades em comparecer por constrangimentos na fronteira dos EUA. Por isso, eu disse que Nova York, como sede das Nações Unidas, deveria ser internacionalizada. Pelo menos Manhatan deveria pertencer a toda a humanidade. Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília, Recife, cada cidade, com sua beleza específica, sua história do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro. Se os EUA querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixá-la nas mãos de brasileiros, internacionalizemos todos os arsenais nucleares dos EUA. Até porque eles já demonstraram que são capazes de usar essas armas, provocando uma destruição milhares de vezes maior do que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas do Brasil. Nos seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as reservas florestais do mundo em troca da dívida. Comecemos usando essa dívida para garantir que cada criança do mundo tenha possibilidade de ir à escola. Internacionalizemos as crianças tratando-as, todas elas, não importando o país onde nasceram, como patrimônio que merece cuidados do mundo inteiro. Ainda mais do que merece a Amazônia. Quando os dirigentes tratarem as crianças pobres do mundo como um patrimônio da humanidade, eles não deixarão que elas trabalhem quando deveriam estudar; que morram quando deveriam viver. Como humanista, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas, enquanto o mundo me tratar como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. Só nossa.
Cristóvam Buarque