Ernesto Guevara, o "Che", cognome que os cubanos lhe deram, morto na Bolívar em 1967, é um fenômeno da história política e social da América Latina. Tornou-se o latino-americano mais famoso do século XX, sendo que nos dias que correm chegou a ensombrecer Simon Bolívar, o Libertador.
Médico, guerrilheiro, teórico revolucionário e estadista, tornou-se um personagem universal devido a sua atuação na Revolução Cubana de 1959 e nos anos que a seguiram. Argentino como Eva Perón, seu nome extrapolou de longe os limites da ilha de Cuba, fazendo com que fosse identificado com o Movimento de Descolonização do Terceiro Mundo.
A morte de Che Guevara
Che Guevara (1928-1967)
"É o meu destino: hoje devo morrer! Mas não, a força de vontade pode superar tudo! Há obstáculos, eu reconheço!não quero sair... Se tenho que morrer será nesta caverna (...). Morrer, sim, mas crivado de balas, destroçado pelas baionetas. Uma recordação mais duradoura do que meu nome É lutar, morrer lutando."
Ernesto Guevara de la Serna, janeiro de 1947.
Desde que dois bolivianos, integrantes da guerrilha comandada por Che Guevara instalada na região do Ñacahuazú, a uns 250 quilômetros ao sul de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, desertaram, os militares tiveram quase certeza que aquele a quem denominavam "Ramón", era de fato o Che. Há dois anos, desde sua carta de despedida, lida publicamente por Fidel Castro, em outubro de 1965, que ninguém, a não ser o alto comando cubano, sabia do seu paradeiro. Em pouco tempo, assessores militares norte-americanos desembarcaram em La Paz, capital da Bolívia, para instruir o mais rápido possível um batalhão de Rangers, adestrados na contra-insurgência, capazes de sair à caça dos guerrilheiros.
As certezas da CIA e das autoridades bolivianas, da presença de Che, aumentaram ainda mais quando capturaram , em Muyupampa, um vilarejo no sul do país, no dia 20 de abril de 1967, o intelectual francês Regis Debray, um agente de ligação de Fidel com Che, e um seu companheiro, o argentino Ciro Bustos. Tornou-se evidente que a presença dos dois estrangeiros na Bolívia se devia a existência de um plano mais vasto de operações de guerrilhas para subverter o governo de La Paz.. Debray, depois de torturado, confessou que "Ramón" era mesmo o Che.
Entrementes, Che havia dividido seus homens - formado em sua maioria por cubanos, alguns bolivianos, um par de peruanos e uma mulher, Tânia (uma teuto- argentina que integrara-se na luta), em duas colunas, a de Joaquim e a dele. O grupo de Joaquim foi exterminado em Vado del Yeso, quando tentava atravessar os rios Acero e Oro. O de Guevara, reduzido a somente 17 homens, foi cercado no 11º mês de manobras.
Num canyon em La Higuera, o destacamento do capitão Gary Prado o cercou no dia 8 de outubro de 1967. Depois de intenso tiroteio, com sua arma avariada e com a perna trespassada por uma bala, Che Guevara rendeu-se. Aquelas alturas a aparência dele era assustadora. Parecia-se a um mendigo, magro, sujo e esfarrapado. Levaram-no para um casebre em La Higuera que servia como escola rural. Lá, na tétrica companhia dos cadáveres de dois jovens guerrilheiros cubanos, ele passou sua última noite. Foi interrogado pelo ten-cel. Andrés Selich ao qual apenas confessou ter sido derrotado, lamentando que nenhum camponês boliviano tenha aderido aos seus propósitos.
A execução de Che Guevara
No dia seguinte, 9 de outubro, por rádio, veio a ordem de La Paz para que o executassem. O agente cubano-americano da CIA, Félix Rodrigues, desejava levar Che como prisioneiro para o Panamá para interrogá-lo , mas o general René Barrientos, então presidente da Bolívia, fora muito claro quanto a sua vontade de matar Guevara lá mesmo.
Coube ao sargento Mário Terán, disparar-lhe uma rajada de balas quando Che ainda estava deitado no chão batido da escola. Morreu aos 39 anos. Removeram-no para Vallegrande onde foi exposto sobre umas pias da lavandeira de um pequeno hospital. Lá amputaram-lhe as mãos para conferir com suas digitais existentes na Argentina. Antes, tiraram várias fotos. Surpreendentemente ele, ferido e estirado, parecia-se com uma daquelas telas do Barroco que retratam o Cristo caído. Seu olhar fixo parecia tranqüilo, como se não fosse surpreendido pelo desastre. Consumava-se assim a sua idéia da morte como martírio.
Ele, e mais sete outros foram enterrados numa cova anônima nas proximidades do pequeno aeroporto de Vallegrande, sob o mais absoluto sigilo. Durante os 28 anos seguintes ninguém se manifestou a respeito, até que o Gen. reformado Mário Vargas Salinas informou ao jornalista Jon Lee Anderson aonde jogaram o cadáver. Depois de dois anos de escavações, peritos cubanos e argentinos, encontraram finalmente seus ossos. Foram transladados para Cuba, onde foram recebidos por Fidel e Raul Castro com honras de estado. Nesses trinta anos que se passaram Che Guevara havia deixado a História para adentrar na Mitologia da América Latina.